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No mundo do futebol, o exercício de pitaqueiro é dos mais importantes. E no Brasil, cada brasileiro é um técnico de futebol. Mas, para surpresa geral, nestas vésperas da Copa do Mundo, os pitacos dos torcedores brasileiros sobre a seleção convocada pelo técnico Felipão foram de baixa intensidade. O escrete brasileiro era bem previsível, certamente por conta do sucesso do grupo na Copa das Confederações.
Essa Copa de 2014, entretanto, é alvo dos pitaqueiros sobre variados aspectos extra-campos de futebol. Tem gente espanaviando pitaco, como zagueirão de futebol de várzea, peladeiro-de-fim-de-semana, que dá chutão, bicão sem direção, maltratando a bola para tudo quanto é lado.
A palavra “pitaco”, aliás, não está disponível em qualquer dicionário da língua portuguesa. Encontra-se assim no Priberan da Língua Portuguesa: pi-ta-co (origem duvidosa, talvez de Pítaco, antropônimo [estadista grego]). Substantivo masculino. No Brasil informal significa comentário ou opinião, geralmente sem fundamento ou sem pertinência. Equivalente no português de Portugal a “bitaite” = PALPITE.
Pois pitaqueiros (palpiteiros) é o que não faltam sobre os números dos gastos governamentais com a Copa do Mundo. É um empurra-empurra de ex-jogadores, uns contra os outros. Dos que não faturam com a Copa do Mundo contra os que faturam rios de dinheiro. Romário, por exemplo, ex-craque dos campos de futebol, ídolo de várias torcidas pelo mundo afora, faz duras críticas contra a organização da Copa do Mundo, mas está ganhando dinheiro com o Mundial de Seleções, vendendo publicidade, vendendo sandálias na TV.
Pelé, o eterno rei do futebol dentro de campo, um cidadão sem compromisso algum com o Brasil fora das quatro linhas, também fala muito mal, solta o verbo e diz o diabo contra a organização da Copa. Mas Pelé está ganhando dinheiro com a Copa, vendendo produtos que talvez nem use nem pense em usar. Só não está faturando alto como Ronaldo, “o fenômeno”.
Lá na França, aliás, Ronaldo, o fenômeno, sofreu verdadeira “cotovelada” no pescoço, desferida por ninguém menos do que o escritor Paulo Coelho. Alardeando que não virá aos jogos da Copa no Brasil, o que certamente vai ser uma ausência muito sentida pela torcida brasileira, Paulo Coelho desancou a Copa.
“Nós poderíamos usar o dinheiro para construir algo diferente em um país que precisa de tudo: hospitais, escolas, transportes. Ronaldo é um imbecil por dizer que não é o papel da Copa do Mundo construir esta infraestrutura. Ele deveria ter fechado a boca.” – palavras de Paulo Coelho, o alquimista que transforma palavras em dinheiro, em dólares, em euros.
Nesta Copa de 2014, tem gente dando “botinada” de todo jeito. “Do pescoço prá baixo é canela”. Os ex-jogadores Zico e Carlos Alberto Torres, o excepcional cantor Ney Matogrosso também mandaram ver! Até o retranqueiro Parreira criticou duramente a organização da Copa do Mundo no Brasil. – Mordeu e sacolejou, mas não largou o osso.
Os números acerca dos gastos da Copa Fifa 2014
Diferente dos gastos de 40 bilhões reais, escandalosamente noticiados pela grande imprensa do Brasil e repercutida pelos bonecos ventríloquos, os investimentos nas 12 cidades dos jogos da Copa do Mundo somam 25 bilhões de reais sendo: 17 bilhões e seiscentos milhões de reais com obras de infraestrutura (aeroportos, portos, mobilidade urbana, veículos sobre trilhos e segurança pública) e 8 bilhões de reais nas obras de construção ou reconstrução dos estádios, agora chamados de arenas.
Ou seja, dos 25 bilhões de reais gastos em quatro anos nas cidades da Copa, 17,6 bilhões de reais, nada menos do que 69 % (sessenta e nove por cento), são gastos em infraestrutura. Não são gastos governamentais diretamente com a Copa do mundo, mas obras que as cidades precisam e que amplos setores da sociedade vinham reclamando. Com ou sem Copa do Mundo, tais obras seriam feitas e o campeonato mundial de seleções nacionais teve efeito apenas catalizador, apressando as suas execuções.
Nos 8 bilhões de reais gastos em quatro nas obras dos estádios da Copa, o que corresponde a 31 % (trinta e um por cento) dos investimentos, não tem dinheiro do Orçamento do Governo Federal. Esse dinheiro das obras dos estádios é de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos orçamentos de governos estaduais e de recursos privados dos próprios clubes.
Os empréstimos do BNDES concedidos aos governos estaduais e aos clubes somam 3 bilhões e novecentos milhões de reais. – Empréstimos bancários significam que o banco vai cobrar juros, lucrar com a operação, ganhar dinheiro. Os 3,9 bilhões de reais que o BNDES emprestou nestes quatro anos para as obras da Copa de 2014 representam apenas 0,5 % (meio por cento) de tudo o que esse banco estatal emprestou para outros diferentes empreendimentos no mesmo período.
Em tempo:
Você sabe quanto o governo brasileiro gastou com saúde e educação ao longo dos últimos quatro anos? Gastou 825 bilhões de reais! Este valor é mais de cem vezes do que o que foi gasto com os estádios de futebol, mas com a diferença já citada anteriormente: Os 8 bilhões de reais gastos com os estádios da Copa não saíram do Orçamento do Governo Federal.
Aliás, no período de 2010 a 2014 em que foram gastos 8 bilhões de reais com os estádios da Copa do Mundo, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil foi de 18 trilhões e 800 milhões de reais. Ou seja, os gastos diretos com os jogos da Copa de 2014 representam 0,04 % (zero vírgula zero quatro por cento) do PIB no mesmo período.
Francamente, sobre os números dos gastos da Copa de 2014, tem gente dando pitaco, tem gente dando bicão. Tem muita intriga e pouca informação fidedigna.
Por Zizo Mamede