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A Comissão Nacional da Verdade assumiu as investigações sobre o desaparecimento, durante o período da Ditadura Militar, do paraibano Francisco das Chagas Pereira, no Rio de Janeiro, por conta de uma reviravolta no caso. Foi identificada uma inconsistência na data oficial do sumiço do estudante de direito, vinculado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1971. Há relatos de que ele viveu no Chile de 1972 a meados de 1973, segundo o integrante da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da memória da Paraíba, Waldir Porfírio.
A reabertura do caso sob a responsabilidade da Comissão Nacional da Verdade ocorreu no final de maio e se deve à possibilidade do governo brasileiro solicitar informações ao Chile com base no acordo existente com o governo chileno. Por meio de uma página em rede social da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da memória da Paraíba, uma chilena confirmou que havia estudado com Francisco de 1972 até meados de 1973 na Faculdade de Direito do Chile, dois anos depois da data oficial que consta como a do desaparecimento do paraibano.
Waldir Porfírio ressaltou que, segundo relatos da chilena, o paraibano viveu no Chile até meados de 1973, quando foi embora da Argentina, de onde se comunicou com ela pela última vez. “No Chile, segundo ela, Francisco se reuniu com vários exilados brasileiros e de outros países da América Latina que fugiam de ditaduras. Reescrever a história de Francisco é importante porque nenhuma pessoa ou cidadão pode simplesmente desaparecer sem que ninguém tenha informações”, frisou.
Francisco das Chagas Pereira nasceu em Sumé, a 264km de João Pessoa, na Paraíba. Segundo dados oficiais, ele trabalhou como sargento da Polícia Militar da Paraíba e no Banco do Nordeste do Brasil, antes de pertencer aos quadros da Empresa Brasileira de Telecomunicações S/A (Embratel), de onde desapareceu aos 27 anos durante um incêndio.
Segundo o Relatório da Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da memória da Paraíba, em 1971 houve um incêndio nas instalações da Embratel no Rio de Janeiro. Francisco das Chagas Pereira se tornou o principal suspeito, segundo as informações da Polícia Federal da época, de “distribuir no interior do prédio material impresso de cunho subversivo e contrário à administração da mesma, tornou-se o maior suspeito de ter ateado fogo em 06/08/1971, em material de expediente da Embratel”.
Após o incêndio, o ex-estudante da Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas desapareceu e, segundo a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, o último contato dele com a família ocorreu por meio de carta pedindo para que toda a sua correspondência fosse queimada por temer repressão dos militares.
Caso reaberto
O caso do desaparecimento de Francisco das Chagas Pereira não constava anteriormente em nenhuma lista ou dossiê organizado por familiares e entidades ligadas à defesa dos Direitos Humanos, segundo Waldir Porfírio. Segundo ele, a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) desconsiderou o caso do ex-militar paraibano por entender que a autenticidade das informações, na época, eram duvidosas.
Com Jacquelline Oliveira