Segundo a reportagem, as ambulâncias são modernas, equipes estão treinadas, tudo pronto, mas falta uma coisa fundamental: a maca. E essa falha grave afeta diversas cidades brasileiras. Os atendimentos urgentes são situações de vida ou morte, onde nada pode dar errado. Mas muitas vezes dá.
Veja trecho da matéria onde o descaso se apresenta na segunda maior cidade da Paraíba, Campina Grande:
Em Campina Grande, na Paraíba, o Fantástico encontrou a mesma situação.
Fantástico: Não tem maca pra levar ela?
Enfermeira: Sem maca, sem cadeira, sem nada.
Hospital superlotado e macas de emergência usadas como leitos. Enquanto isso, no lado de fora…
“Teve dias de a gente chegar aqui por volta de meia noite, sair daqui dez horas da manhã, onze horas, meio dia. Já várias, várias vezes”, afirma Silvia Santa Cruz, enfermeira do Samu.
A equipe flagrou uma ambulância que ficou uma hora parada sem maca. Ao mesmo tempo, na BR-230, um motoqueiro também esperava.
“Quando chegamos aqui, o pessoal disse que tinha mais de uma hora e meia que tinham ligado lá para o Samu. Disseram que não tinha ambulância”, diz o sargento Clementino, da Polícia Militar.
“Esse acidente foi aqui ainda estava claro, sabia? A gente chamou a Samu, mas a Samu não veio, não. Disse que não tinha ambulância lá, não”, afirma Rose Silva, testemunha do acidente.
O carro que finalmente chega é o mesmo que o Fantástico flagrou há pouco parado, esperando maca na porta do hospital.
“Acabou de ser liberada nesse momento a maca. Cada vez mais que o Samu leva um paciente para o trauma, fica uma maca presa”, diz o socorrista Edson Nunes.
No começo de julho, a retenção de macas levou à morte de um senhor em Campina Grande.
“Perdi meu pai. Eu não gosto nem de pensar. Eu me humilhando, entendeu? E só escutando, só escutando, escutando… E nada. Pedindo ambulância”, conta Francisco Rodrigues Filho, filho da vítima.
O drama dessa família começou quando o pai de Francisco teve um infarto em casa. A primeira a ligar para o Samu foi a nora.
Nora: Ele tá sentindo muitas dores.
Central do Samu: Senhora, olha. No momento eu tô sem nenhuma ambulância. Sem UTI móvel, sem unidade básica. Eu tenho algumas com maca presa no Hospital de Traumas e as outras estão em ocorrência.
A família esperou três horas e desistiu.
“Coloquei meu pai em cima de uma camionete para trazer para o hospital. Quando eu cheguei aqui, cinco ambulâncias da Samu que eu vi. Todas sem maca”, conta o filho da vítima.
O seu Francisco foi trazido para o hospital, que, além de Campina Grande, atende a mais de 270 municípios de quatro estados diferentes. É o único hospital de referência da região.
Fantástico: O que vocês estão fazendo aqui?
Socorrista: Aguardando a maca, liberação
Fantástico: Há quanto tempo?
Socorrista: Há mais de uma hora.
“Ao invés de estar ali socorrendo, você está aqui na porta do hospital, no lado de fora, esperando para prestar um atendimento que a gente sabe que a gente podia estar lá, resolvendo o problema da população, e não pode”, afirma a socorrista.
Em Campina Grande, o Samu é coordenado pelo município.
Fantástico: Você tem, atendendo a população de Campina Grande, quantas ambulâncias?
Hermano Barbosa de Lima (coordenador médico do Samu de Campina Grande): dez ambulâncias.
Fantástico: E você já chegou a ficar com quantas paradas por falta de maca?
Hermano Barbosa de Lima: Dez ambulâncias paradas. Para cada unidade, nós temos uma reserva. Quando o serviço fica 100% inviável, é porque, além das dez macas reservas, ficaram também as dez macas oficiais da unidade retidas no hospital.
Fantástico: Ou seja, você já chegou a ter 20 macas retidas dentro do Hospital de Traumas?
Hermano Barbosa de Lima: Rotineiramente.
Fantástico: Vocês já entraram em contato com o hospital para falar sobre esse problema?
Hermano Barbosa de Lima: Sim. Além disso, uma vez a maca ficando presa, a equipe que se encontra presa sai do hospital, vai para a delegacia, faz um Boletim de Ocorrência para documentar.
O Hospital de Traumas é de responsabilidade do governo da Paraíba. O secretário diz que as macas ficam presas, porque o Samu manda pacientes para lá que poderiam ir para unidades mais simples e não avisa os médicos.
“Na medida em que você tem uma ambulância direcionada a qualquer serviço sem ter a regulação médica, sem preparar o hospital, obviamente que essa ambulância, ela terá que esperar a liberação da maca. Essa responsabilidade não pode ser do hospital, ela não deve ser do hospital. É como se você tivesse preparado para receber cinco pessoas na sua casa para almoçar e chegar 50”, afirma o secretário de Saúde da Paraíba, Waldson de Sousa.
“Eles acham que a gente sempre coloca o paciente lá, o que não é uma verdade. Nós trabalhamos aqui com uma grade de referência hospitalar. A gente tenta poupar a todo momento, colocar paciente que pode ficar em outro hospital ao invés de colocar lá no trauma”, afirma o coordenador do Samu de Campina Grande, Hermano Barbosa de Lima.
Com G1