O esvaziamento das comemorações oficiais relativas ao quinquagésimo sexto ano de emancipação política do município de Serra Branca expressa bem quão modorrenta está a cidade. Aqui, entenda por cidade não o ajuntamento de casas, mas a consciência difusa de pertencimento ao município, dos que o habitam ou, mesmo distante, guardam referências e laços de afeto com o lugar.
O clima de pessimismo reinante em Serra Branca já se revelara na fala, em emissoras de rádio, de uma integrante do governo Dudu Torreão/Joda Zuza, quando, ao convidar a população para participar da programação organizada pela prefeitura, saiu-se com essa pérola inspirada na fase mais cruel da Ditadura Militar: “Tem muita gente dizendo que não há o que comemorar no aniversário da cidade, mas Serra Branca é isto mesmo … é como diz aquele ditado, ame-a ou deixe-a”.
Ficou muito difícil entender e atender aos apelos do prefeito para comemorar o aniversário da cidade porque foi exatamente na mesma semana da escandalosa notícia de que o Consórcio de Saúde do Cariri (CISCO) havia suspendido os atendimentos à população de Serra Branca por conta da vergonhosa dívida feita pela prefeitura junto àquela instituição intermunicipal.
O prefeito de Serra Branca ter a coragem de convidar as pessoas – que não dispõe de médicos, exames e medicamentos, que não têm estradas decentes, que não têm calçamento em metade das ruas e vivem numa cidade às escuras, que não têm transporte escolar nem escola de qualidade, que sabem das dívidas do município acumuladas em mais de 3 milhões de reais – para comemorarem a cidade, é falta de bom senso ou então o prefeito é um cínico, no pior sentido da palavra.
Quem vive (ou convive) em Serra Branca, sem nenhum esforço se depara com o estado de desânimo coletivo em que se afunda no município. Os serrabranquenses estão com a auto estima em baixa. Num buraco. As pessoas em Serra Branca, mais do que em qualquer outro lugar do Brasil, padecem daquele “complexo de vira-latas” de que falava Nelson Rodrigues nos idos de 1958.
A desmotivação da população ampliou-se quando os próprios eleitores da dupla Dudu/Joda caíram na realidade da vida: elegeram um prefeito que além de não ser dado ao trabalho, ainda por cima está enrolado com a Justiça. O prefeito Dudu não priorizou outra questão, senão se defender na justiça comum e na justiça eleitoral para segurar o mandato. A cidade de Serra Branca está pagando a conta. Está pagando caro.
Uma ladainha corre na cidade de boca em boca: as pessoas não se cansam de comparar Serra Branca com os município vizinhos. A lamentação está em todas as rodas, em todas as esquinas. Pior, mais do que se sentir impotentes, as pessoas se sentem desesperançosas – Desesperança é a maior ameaça ao futuro.
Os serrabranquenses continuam batalhando pela vida. As pessoas não param de cuidar, cada uma de sua vida pessoal, de seus interesses privados, mas estão de baixo astral com a cidade. Estão contaminadas com o o baixo astral do prefeito.
Levanta Serra Branca!
Por Zizo Mamede