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TEU ÓDIO SERÁ TUA HERANÇA
Na manhã seguinte ao fatídico domingo de 17 de abril de 2016, no corredor do Colégio Estadual de Serra Branca, um respeitado professor, discreto simpatizante do PT, escuta a ameaça de um jovem estudante: “Bolsonaro vai mandar matar os petistas”. Detalhe: o jovem é de uma família que vive de Bíblia em punho.
Na terça-feira ligo o rádio e lá pelas tantas um ouvinte telefona para lamentar a postura da maioria dos deputados e deputadas na sessão que aprovou a denúncia pelo impedimento da presidenta Dilma. No comentário o radialista consegue por toda a culpa nos 54 milhões de pessoas que votaram a favor da reeleição da presidenta.
O deputado Jair Bolsonaro homenageou Ultra o torturador-mor da Ditadura Militar e seviciador da jovem Dilma Vana Rousseff e de outras prisioneiras. Foi festejado por milhões de brasileiras e de brasileiros.
Um dia, no estado de Pernambuco, uma mulher mandou produzir e distribuir adesivos para colar na boca dos tanques de gasolina dos carros: Uma colagem de duas fotos, uma mulher de pernas abertas e cabeça da presidenta Dilma. A ideia disseminada aludir a um estupro contra Dilma a cada abastecimento dos carros.
Outro dia, um homem aborda um frentista em um posto de gasolina e começa a agredi-lo por sua condição de ser um haitiano que Cuba teria mandado para o Brasil para tomar o emprego dos brasileiros.
Lá no Sul uma médica pediatra recusa-se a atender uma criança doente “porque a mãe da criança é petista”. Pior, a dita médica recebeu o apoio do plano de saúde para o qual trabalha.
Numa esquina de São Paulo, jovens agridem um casal simplesmente porque ela vestia uma blusa vermelha e ele é barbudo, gente com “jeito de petistas”.
Nas redes sociais, um jovem serra-branquense estudante de engenharia civil, argumenta contra ex-presidente Lula: “Esse velho gagá deveria se aposentar e calar a boca”.
Na Avenida Paulista homens e mulheres, vestindo camisas da CBF, carregavam uma faixa com as seguintes palavras contra Dilma: “Se balançar essa quenga cai!”
Em Brasília, o senador Ronaldo Caiado (DEM) distribuiu camisas amarelas com uma mão negra estampada. Detalhe: A mão tem um dedo cortado, numa alusão ao acidente que decepou um dedo de Lula quando ele era metalúrgico.
Racistas atacam atrizes nas redes sociais. Zombam de seus cabelos crespos e de serem “macacas” fora do contexto.
Nos corredores da Câmara dos deputados o deputado Bolsonaro declarou que só não estuprava a deputada petista Maria do Rosário porque ela “não é digna de um estrupo” de um homem da estirpe dele.
Do campus da UFCG em Sumé, um professor de Ciências Sociais telefona para uma emissora de rádio para declarar apoio a condução coercitiva do ex-presidente Lula por decisão do juiz Sérgio Moro.
Nas redes sociais um policial federal pergunta aos que se manifestam contra o impeachment: “Vai ter pão com mortadela?”
Na última quadra o ódio foi plantado e cultivado na sociedade brasileira. A semente brotou e sua planta não foi arrancada. Todos os dias setores da mídia regam o ódio, disseminando um mal estar generalizado no país onde “nada dá certo” e sugerindo os culpados.
Grupos fundamentalistas aproveitam o mal estar, identificam os culpados, pregam o fim dos tempos e o enfretamento ao anticristo: O PT, os homossexuais, os negros, os índios, os sem-terra, os sem-teto, os drogados, os jovens das periferias.
As reações ao ódio precisam ser inteligentes, não podem ser de medo ou acomodação.
Por Zizo Mamede