Na Paraíba, nove, de 10 ameaças à saúde humana listadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para 2019, devem afetar a população local. Entre as situações estão desde fenômenos naturais, como a seca, a doenças provocadas por infecções de bactérias, vírus e patologias crônicas.
Com relação às doenças, a maior parte pode ser prevenida com adoção de hábitos saudáveis, vacinação e orientações no acesso aos serviços de Atenção Básica. No que se refere às patologias que não são transmissíveis, como diabetes, câncer e problemas cardiovasculares figuram como fatores responsáveis por 70% das mortes no mundo, segundo o ranking da OMS. No caso destas últimas, foram 743 óbitos na Paraíba, em 2018, e duas este ano, segundo dados do Ministério da Saúde. Conforme o órgão, essas mortes tiveram como causas arritmia e insuficiência cardíaca, complicações em decorrência de cardiopatias.
Trabalhando em uma farmácia, no Centro de João Pessoa, Karine Pereira notou um aumento na procura por medicamentos para problemas cardíacos e doenças crônicas, como a diabetes. No estabelecimento onde ela trabalha há entrega gratuita de remédios para esses problemas e, inclusive pessoas jovens, estão entre os pacientes cadastrados.
“Atendemos, em média, 50 pessoas por dia somente para pegar medicamentos para hipertensão e diabetes. O perfil é bem variado e, entre os jovens, tem aumentado o número de pessoas com obesidade”, relatou a farmacêutica.
Além da má alimentação e do sedentarismo, o estresse é um fator preocupante para o desenvolvimento e até mesmo complicações de doenças cardíacas. O cardiologista e pesquisador no Instituto do coração da Faculdade de Medicina da USP (Incor/FMUSP), Valério Vasconcelos, lembrou que as mulheres são as mais afetadas.
“O estresse pode acarretar um AVC (Acidente Vascular Cerebral). As pessoas que trabalham em excesso também tendem a se alimentar mal, fazer menos atividade física, ingerir mais bebidas alcoólicas, ter maior incidência de pressão alta e diabetes, além de, provavelmente, ter menos tempo para cuidar de seus próprios problemas de saúde. As mulheres, de todas as idades, correm mais riscos de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) do que os homens. Elas têm também maiores fatores de risco que favorecem os acidentes cerebrais, como enxaquecas, depressão, diabetes e arritmia cardíaca”, destacou.
O cardiologista lembrou que entre as patologias cardiovasculares mais preocupantes está a doença das artérias do coração ou doença das artérias do cérebro. “Tanto na artéria do coração, como na artéria do cérebro, tudo começa quando se forma uma placa de gordura (aterosclerose), em decorrência de vários fatores de risco, como o aumento do peso, má alimentação, sedentarismo, açúcar elevado no sangue, colesterol alto, pressão alta, uso de cigarro e outros fatores de risco. Caso a placa ocorra na artéria do coração, pode haver sintomas como angina (dor no peito), sensação de cansaço aos esforços até mesmo um infarto. Se a artéria acometida for no cérebro, pode haver sintomas como tonturas, alteração na memória até mesmo um AVC”, esclareceu o médico.
O aposentado Francisco Nóbrega e a esposa têm hipertensão. Contudo, ele garante que toma os cuidados necessários para evitar complicações na saúde do coração. “Nós tomamos a medicação corretamente e temos uma alimentação saudável, com pouco sal, sem frituras e açúcar”, comentou o aposentado.
SEM TOMAR VACINAS
A Atenção Básica é a porta de entrada onde a população deve acessar os primeiros serviços e cuidados com a saúde, na rede pública. É nas unidades de saúde, por exemplo, onde devem estar disponíveis as campanhas de vacinação, além de orientações sobre a prevenção e tratamento de doenças crônicas, como a diabetes, hipertensão, obesidade, e de patologias infectocontagiosas.
A falta de vacinação ou resistência a esse método preventivo é um dos empecilhos listados pela OMS que ameaçam a saúde da população paraibana em 2019. Este mês, a entidade alertou as autoridades e governos sobre um possível surto, pela terceira vez, de febre amarela no Brasil. Entre dezembro de 2018 e o último mês de janeiro foram registrados 36 casos da doença no País, sendo oito mortes confirmadas. Outra doença que volta a ameaçar os brasileiros e ainda circula em alguns países é o sarampo, que também pode ser prevenido com a vacinação. De acordo com a OMS, 1,5 milhão de mortes, anualmente, poderiam ser evitadas se a vacinação tivesse um maior alcance.
A médica sanitarista do Hospital Universitário Alcides Carneiro (HUAC) de Campina Grande, Flávia Mentor, lembrou que entre os motivos das doenças até então erradicadas pela vacinação, como o sarampo, voltar é a falsa sensação de que, por conta disso e do sucesso da cobertura vacinal, as imunizações não são mais necessárias. “Outro problema é o surgimento de um movimento chamado ‘antivacinação’, no qual se propaga que os imunizantes sejam mais prejudiciais do que benéficos. Isso faz com que muitas pessoas optem por não imunizar seus filhos.
Infelizmente, isso se dá baseado nas chamadas fake news nas redes sociais, o que vem causando alarde, assustando e colocando em risco a vida da população”, alertou a médica.
Mãe de primeira viagem, Camila Brandão está atenta ao calendário de vacinação para que o pequeno Ben Charles não perca de receber as doses no período correto. “Procuro sempre saber da pediatra que acompanha ele e também das enfermeiras do Posto de Saúde a data certa para as próximas vacinas. Já sei que as principais eu consigo nos posto. Mas, a médica falou que também têm outras que existem nas clínicas particulares. Conforme ele for crescendo, vou atualizando”, contou Camila Brandão.
INFLUENZA
Na idade adulta, há outras vacinas para a prevenção de doenças graves, como as complicações decorrentes da contaminação pelos vírus Influenza e HPV. Com relação à Paraíba, foram 14 casos confirmados de Influenza em 2018. No ano anterior, foram cinco. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde (SES). A OMS tem que, este ano, o mundo enfrente uma pandemia do vírus. Contudo, afirmou que a entidade mantém a vigilância do monitoramento do vírus da Influenza que estão em circulação.
IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO
A conscientização e orientações sobre a importância da vacinação e prevenção a outras doenças devem ser ações contínuas e o reforço nesse trabalho, para que se tenha resultados mais significativos, deve partir de municípios, estados e do governo federal. É o que defende o médico infectologista do HUAC, Jack Acioly.
“A Unidade Básica de Saúde tem papel fundamental nessa conscientização, mas, nesse caso, as gestões federal, estadual e municipal precisam participar de modo efetivo com campanhas informativas na mídia de forma contínua, e intensificada de forma regular em determinados períodos. as ações dos gestores devem fazer parte dos planos de governo, pois são custo-efetivas; ou seja, é mais barato investir em vacinas do que tratar uma doença. Além disso, essas medidas têm grande impacto na promoção da saúde”, frisou o médico.
CONTAMINAÇÃO PELO VÍRUS HIV
Nos últimos dez anos, a Paraíba registrou 2.346 novos casos de HIV, o vírus causador da Aids. Mesmo com um decréscimo de 23,8%, de 2017 para 2018, no número de casos do vírus, nos últimos cinco anos houve um aumento progressivo, que alcançou 114%. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde (SES). A contaminação por HIV também está entre as ameaças à saúde da população em 2019, segundo a OMS.
A entidade lembra que, atualmente, cerca de 37 milhões de pessoas vivem com HIV em todo o mundo e o vírus tem afetado cada vez mais adolescentes e mulheres jovens, entre 15 e 24 anos. Para a médica sanitarista do HUAC, Flávia Mentor, o acesso aos serviços na Atenção Básica é essencial para que a população seja orientada sobre as formas de prevenção às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e contágio de HIV.
“É importante que as campanhas educativas e as ações de educação em saúde não sejam ações pontuais. É necessário o empenho de todos nessa questão e que ações de prevenção e promoção à saúde permeiem todos os atendimentos da saúde”, destacou.
SECA E POLUIÇÃO NA LISTA
Na lista da OMS, além das doenças, fenômenos naturais e antrópicos, como a seca e a poluição, respectivamente, também são listados como ameaças à vida humana em 2019. No caso da seca e períodos de estiagem as autoridades têm buscado alternativas de convivência, como é o caso da Transposição do Rio São Francisco, que ainda está com obras em andamento. Já no caso da poluição, os vilões são as próprias vítimas: o homem.
Os prejuízos causados ao meio ambiente, como a poluição do ar, já apresentam impacto direto na vida humana, danificando o sistema respiratório e circulatório, por exemplo. A estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que nove em cada 10 pessoas respirem ar poluído diariamente. A consequência de respirar as partículas poluentes é o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e até câncer.
A OMS estima que pelo menos 7 milhões de pessoas morram todos os anos por terem desenvolvido alguma doença em decorrência de viver em um ambiente poluído.
No Nordeste brasileiro, como é o nosso caso, a atividade industrial, aliada ao crescimento urbano e ao aumento da frota de veículos, são os principais agentes poluidores e que influenciam na qualidade de vida e saúde da população, conforme explica o professor e pesquisador da Universidade Federal da Paraíba, Lincoln Eloi.
“Neste contexto as grandes cidades nordestinas são acometidas de forma direta ou indiretamente por tais mudanças climáticas, que se manifestam através do: aumento da temperatura do ar, devido ao grande número de construção, asfaltamento e substituição de área verdes; diminuição da umidade, mesmo no caso de João Pessoa, nossa capital, bastante arborizada e próxima ao Oceano, tem aumentado sua dificuldade em distribuir essa umidade em seu território devido as construções a beira mar que impossibilitam de certa forma a entrada da brisa marítima”, disse.
Ele ainda lembrou que outro problema que tem se agravado no Nordeste, em decorrência da poluição, é o aumento da temperatura e redução da umidade. “Haja vista a quantidade de poluentes expelidos pela frota de carro (que a cada ano aumenta) e indústria que compõem a grande área metropolitana de João Pessoa só prejudicam o ar em toda área, principalmente em dias com pouco vento, mais frios e sem chuva.
Assim, toda variação no meio torna o local mais susceptível a doenças oportunista, no caso de nossa cidade com o aumento da temperatura e umidade doenças surgem mais facilmente, como: otite, pressão alta mais constante, asma, dengue e suas irmãs correlatas se agravam”, comentou Eloi.
“Temos também as doenças causadas pela poluição do ar, que podem ser simples ou mais severas em caso de acúmulo de poluentes pelo o organismo no decorrer do tempo, como: coceiras no nariz, rinite, irritação dos olhos e juntas do corpo, e doenças mais graves como doenças no aparelho respiratório que se agravam com o tempo, ocasionando invalidez ou morte dos indivíduos.” – Lincoln Eloi, professor e pesquisador da UFPB