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Há evidentes sinais de que muitas escolas não sabem o que fazer no segundo turno das aulas. Turmas inteiras de estudantes vagueiam pelas cidades da Paraíba exatamente no horário em que deveriam estar nas atividades educacionais, dentro da própria escola ou no ambiente escolar estendido na imensidão do cotidiano extra-escolar.
No contra-turno das aulas os estudantes e professores, se não dispõe de todo um aparato educacional dentro da própria escola (ginásios, auditórios, laboratórios) poderiam ter aulas transdisciplinares em um planeta de vida que existe lá fora, para além dos muros e portões da escola. – O mundo é um livro aberto.
Um lixão ou um aterro sanitário. Um museu ou os arquivos de uma igreja. Um reservatório hídrico, um riacho esturricado, um rio morto. Um presídio ou uma delegacia. Uma vala de esgoto a céu aberto. Os arquivos da câmara municipal ou dos cartórios. Um plantio, um curral ou uma área de pasto. Uma oficina ou um ferro velho. Uma cantina, uma unidade de saúde ou um hospital. Um abrigo de idosos. Uma emissora de rádio. A feira livre. Um estúdio. Uma estrada, uma rodovia, uma via, o trânsito e os transeuntes. Os ambientes das universidades e faculdades – A matéria bruta está aí, pulsando e desafiando quem quer estudar.
Os limites materiais e imateriais existem, mas gradativamente estão sendo superados. As escolas têm livros e revistas científicas empilhadas. Tem recursos de informática e uma gama de programas à disposição para elevar o nível da aprendizagem e do ensino. Não lhes faltam apenas ginásios, refeitórios e espaços para as artes. Falta-lhes o espírito, o que é mais importante para sair da mesmice. – As escolas que são exceções, poderiam ser exemplos, mas são exceções premiadas.
É injustificável que as escolas de tempo integral não se disponham pelo menos a encarar o ENEM de frente. Há professores que confessam não saber “o que fazer com os a-lunos” no segundo expediente das aulas. Tem professor que não vai além de dar aulas com filmes ou documentários, sem mais nenhum objetivo além de matar o tempo. – Tem professor que não tem jeito.
As mudanças reclamadas há décadas, de mais tempo para crianças e jovens na escola, hoje parecem mais com pretextos desmascaradas pelo tempo. Os exemplos dos sistemas de ensino de outros países com suas jornadas escolares extensas, outrora tão elogiados e invejados por aqui, não são apropriados, não são incorporados, não são recriados para o ramerrão das dezenas de milhares de escolas brasileiras de tempo integral. – Para quem não quer fazer diferente, não faltam desculpas.
A oportunidade de manter crianças e jovens em uma jornada escolar integral pretende ir além da excelência escolar. Ter jovens com mais tempo em atividades escolares pode significar negar tempo para as tentações do mundo das drogas. Dar mais tempo para o convívio com os livros e com os colegas é dar menos tempo para os descaminhos da violência. Mas os estudantes não têm como nem porque ficar um segundo horário na escola para terem mais do mesmo, principalmente quando percebem que uma parte dos professores não sabe o que fazer com o sobre-tempo disponível.
Há avanços na qualidade da escola, mas são muito lentos. O acréscimo dos investimentos em educação – na última década o Brasil passou a investir 6% do PIB em educação, 50% a mais de recursos do que em 2002 – não é acompanhado nem de longe no ritmo da evolução dos índices de qualidade da educação básica. – Mais dinheiro não significa mais inspiração e mais compromisso.
Mas, prá tudo há um jeito. No caso, há de se ter uma força, uma motivação que não se compra porque não tem preço: Mística! Espiritualidade para ir além da mesmice.
Por Zizo Mamede