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A grande crise econômica que eclodiu nos Estados Unidos entre 2007 e 2008 e que afeta a sociedade planetária há mais de meia década é decorrência da desregulação do mercado norte americano, num mundo hegemonizado pelo capitalismo financeiro. Sem fronteiras e sem limites os donos dos bancos e a classe rentista em geral pintam e bordam no epicentro e nas bordas da economia internacional, destruindo dezenas de milhões de empregos, principalmente nos países centrais.
A crise atual, entretanto, não sensibilizou os neoliberais que insistem, renitentes, na mesma receita: reduzir o tamanho do Estado ao mínimo, para entregar a sociedade à lei da oferta e da procura. Em nome da velha receita, os liberais, por seus porta-vozes da grande mídia, desqualificam a política, o Estado e os serviços públicos.
A elite liberal finge não ver que é a própria crise. Os velhos liberais continuam apregoando a mesma panaceia de sempre para os problemas da economia: arrocho fiscal, desregulamentação, supressão de direitos dos trabalhadores (“custo-Brasil”), independência do Banco Central.
Os países que conseguiram reduzir o impacto da crise econômica são exatamente aqueles, como o Brasil, que adotavam políticas econômicas de cunho Keynesiano, onde o Estado, sem sufocar o mercado, age de forma anti-cíclica com grandes investimentos em obras de infraestrutura, com redistribuição de renda, expansão do consumo interno e criação de empregos.
É de se imaginar como estaria Brasil na conjuntura crítica dos últimos seis anos, sem os grandes programas governamentais de obras estruturantes, de valorização dos salários, de expansão do crédito, de criação de mais e melhores empregos. É de se pensar no Brasil, em meio ao turbilhão da crise internacional, sem políticas de proteção para as camadas mais pobres da sociedade. É de arrepiar imaginar a sociedade brasileira, marcada por profundas desigualdades, entregue ao deus-dará do mercado, à lei do mais forte.
A política anti-cíclica, a participação direta e indireta do Estado na economia brasileira salvou o Brasil da hecatombe do cassino global. Enquanto o mundo desenvolvido suprime empregos, o Brasil vive uma situação de mínimo desemprego. A atitude do Brasil já antes da crise, com as políticas do governo Lula de inclusão produtiva e social funcionaram como um amortecedor quando a crise eclodiu. – A política salvou o Brasil porque a política é a único meio para fazer contrapeso à voracidade anárquica do mercado.
A crise econômica é duradoura e vai assolando os Estados Unidos, a Europa e as demais regiões do mundo a solavancos. Num tempo de globalização, todos os países do mundo são afetados pelas intempéries econômicas. Mas, o Brasil enfrenta a crise sem criar desemprego, sem achatar salários, sem concentrar renda, mesmo com os altos e baixos do PIB. O Brasil não é o melhor dos mundos, não é a bancarrota pintada pelos neoliberais. Pelo contrário, o povo brasileiro está em uma situação bem melhor do que a maioria dos povos do mundo.
Agora que o país vive um momento forte da democracia representativa com as eleições gerais, dois grandes caminhos se apresentam para o crivo popular: Dos projetos liberais representados pelas candidaturas de Aécio Neves e Marina Silva; do projeto keynesiano de Dilma Roussef. Os demais candidatos estão marcando posição.
A novidade do momento não é exatamente uma novidade: a candidata do PSB-Rede, Marina Silva, que já exerceu mandatos parlamentares, foi ministra e emigrou por vários partidos políticos nas últimas três década, se apresenta negando a política ou anunciando uma “nova” política. Marina Silva não tem nada de novo na política e escamoteia num palavreado repleto de platitudes, que representa a tábua de salvação dos velhos liberais.
Por Zizo Mamede