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Nestas últimas semanas de maio eu estive em atividades políticas e culturais em diversas cidades do Cariri paraibano. Em Sumé, Monteiro, Caraúbas, Taperoá, Soledade e Juazeirinho eu tive a oportunidade de testemunhar o que muitos caririzeiros pensam sobre o município de Serra Branca. São opiniões e impressões insuficientes, mas que, lidas nas entrelinhas, revelam que o conceito da nossa terra natal não está muito bom entre os conterrâneos da vizinhança.
A primeira constatação nos diálogos travados é que a imagem da cidade de Serra Branca está colada com a imagem que as pessoas, lá fora, têm da prefeitura da cidade. Muitas pessoas tomam a parte como se fosse o todo e, como veem muito mais notícias ruins, principalmente nos meios democráticos dos sites e blogs, reduzem Serra Branca à prefeitura e ao prefeito.
Outra constatação dos contatos que eu fiz nas cidades do Cariri Oriental, é que as pessoas mais críticas dizem perceber que as duas emissoras de rádio instaladas na cidade de Serra Branca não pautam o debate sobre a própria cidade em que estão sediadas e, só raramente e mais através dos “furos” dos ouvintes por telefone, é que ficam sabendo dos problemas do nosso município, o que contrasta muito com o volume das falas a que tem acesso nas redes sociais.
Já nas cidades do Cariri Ocidental, percebi que as informações sobre Serra Branca circulam principalmente na feira de Sumé, nos hospitais de Sumé e Monteiro e através dos estudantes universitários, além, óbvio, da internet. Tanto de um lado como do outro lado do Cariri, a imagem de Serra Branca é bem sofrível.
Em todas essas oportunidades das conversas com nossos conterrâneos caririzeiros, tentei mostrar que Serra Branca não é exatamente assim como pensam por aí e que, para além da prefeitura municipal, há muita vida: pessoas trabalhando, construindo, investindo na cidade, abrindo negócios, muitas insistindo em viver da agricultura familiar, muita gente estudando, se divertindo, em suma, vivendo.
Falei dos trabalhos comunitários, dos bem-feitos do povo, a exemplo dos Vicentinos que há mais de cinquenta anos acolhem idosos e pessoas com problemas mentais; do cursinho pré-universitário que há quinze anos motiva e ajuda a quem quer ingressar no curso de nível superior das universidades públicas; da rádio comunitária que democratiza as informações e apoia a cultura artística local; das associações comunitárias do Salão, Duas Serras, do Ligeiro de Cima e de Baixo, entre outras que tentam aglutinar os agricultores na luta pela cidadania.
Enumerei um conjunto de investimentos dos governos federal e estadual no município de Serra Branca: dos recursos para a construção de uma UPA e de uma escola do PróInfância, das máquinas do PAC, do esgotamento sanitário, das estradas que estão sendo asfaltadas entre a nossa cidade e os municípios vizinhos. – Meus interlocutores interpelaram que isto também tem em muitos outros municípios da Paraíba e do Brasil!
Falei de boas notícias de Serra Branca e fui acusado de ser bairrista, de ser ufanista e de ter perdido o ímpeto político das últimas décadas. Fui confrontado por um jornalista, com números sobre o município de Serra Branca: “Que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Coxixola já ultrapassou o de Serra Branca; que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de Parari já é melhor do que o de Serra Branca; que o Índice de Gestão Fiscal (IGF/FIRJAN) de Serra Branca é o pior de toda a região do Cariri”.
A essa altura da conversa, diante de estatísticas adversas, eu mal falei. Mas resmunguei, sob o olhar trocista do meu interlocutor, para que não reduzisse, pura e simplesmente, os índices oficiais sobre Serra Branca, coisas de responsabilidade da prefeitura, com as coisas do povo.
Voltei prá casa dialogando comigo mesmo: será que ando mais candidamente otimista do que realista esperançoso? Decidi-me que vou encontrar tempo para ler Voltaire de novo.
Por Zizo Mamede