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Morre o ator e diretor José Wilker, aos 66 anos

by Redação
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O ator, diretor e crítico de cinema José Wilker morreu neste sábado, aos 66 anos. De acordo com as primeiras notícias, ele teve um infarto enquanto dormia na casa de sua namorada, em Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, conforme adiantou a coluna de Ancelmo Gois. Segundo amigos, uma ambulância chegou a seguir para o local, mas os socorristas concluíram que não havia mais tempo de levá-lo ao Hospital Samaritano.

Um dos artistas mais atuantes da televisão, do teatro e do cinema brasileiros, Wilker pôde ser visto recentemente na novela “Amor à vida” como o médico Herbert. Também era conhecido do público como crítico de cinema, comentando a cerimônia do Oscar e falando sobre os filmes na Globonews. Além da carreira artística, ainda teve atuação política, presidindo a RioFilme de 2003 a 2008.

Cearense de Juazeiro do Norte, começou trabalhando como locutor de rádio. Cinéfilo desde a juventude, quando assistia a seriados como “Flash Gordon”, Wilker comprou seu primeiro videocassete em 1974 e, nos anos 1990, tinha acumulado em casa uma videoteca com cerca de quatro mil títulos. Entre seus filmes favoritos, estava “Quanto mais quente melhor”, de Billy Wilder; “Cidadão Kane”, de Orson Welles e “Rocco e seus irmãos”, de Luchino Visconti.

Aos 19 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro. Chegou a estudar Sociologia, mas abandonou o curso para se dedicar definitivamente ao teatro. Fez sua estreia no cinema no filme “A falecida”, em 1965, apesar de seu nome não ter aparecido nos créditos. Foi naquele ano também sua participação na montagem teatral de “Perto do coração selvagem”, obra de Clarice Lispector.

Foram muitos os personagens populares de Wilker no cinema – ele atuou em 49 filmes – e na televisão. Em “Dona Flor e seus dois maridos”, de 1976, inspirado no romance de Jorge Amado, ele imortalizou o personagem Vadinho, uma de suas atuações mais memoráveis. O longa fez tanto sucesso que manteve a maior bilheteria do cinema nacional até 2010. No mesmo ano, participou do filme “Xica da Silva”. Trabalhou também em “Bye Bye Brasil”, de 1979, e ficou marcado por papéis emblemáticos como o político Tenório Cavalcanti em “O homem da capa preta” e Antonio Conselheiro em “A Guerra de Canudos”.

Sua primeira novela foi “Bandeira 2”, em 1971. Em 1976, mesmo ano de “Dona Flor…”, ele viveu o protagonista de “Anjo mau”, de Cassio Gabus Mendes. Em 1985, encarnou o inesquecível Roque Santeiro, da novela homônima exibida na TV Globo. E marcou presença nas duas versões de “Gabriela”, vivendo o visionário Mundinho Falcão na primeira, de 1975, e o coronel Jesuíno no remake exibido em 2012. Nesta segunda, seu bordão “deite que vou lher usar” caiu no gosto do público.

Mas o bordão mais conhecido de um personagem de Wilker foi o “felomenal” de Giovanni Improtta, um divertido contraventor cheio de manias. O sucesso foi tanto que o personagem de “Senhora do destino”, exibida entre 2004 e 2005, ganhou um filme só para ele anos mais tarde, em 2013. O ator marcou presença também em séries e minisséries como “Anos Rebeldes” (1992); “Agosto” (1993); e “A Muralha” (2000), além de “JK”, em 2006, em que interpretou o presidente Juscelino Kubitschek.

Também na TV Globo, deixou sua marca na direção em programas como o humorístico “Sai de Baixo” (1996) e as novelas “Louco Amor” (1983), de Gilberto Braga, e “Transas e Caretas” (1984), de Lauro César Muniz. Trabalhou também na TV Manchete, dirigindo duas novelas em que também atuava: “Carmem” (1987), de Gloria Perez, e “Corpo Santo” (1987), de José Louzeiro.

Ator premiado no teatro

Wilker começou a carreira fazendo teatro de rua. Participou do elenco da lendária montagem de “O rei da vela”, do Teatro Oficina, em 1967. Três anos depois, ganhou o prêmio Molière de melhor ator pela peça “O arquiteto e o imperador da Assíria”, em que contracenava com Rubens Correia.

A morte do ator foi sentida e comentada durante a manhã deste sábado no 23º Festival de Teatro de Curitiba, que se encerra neste domingo. Nos últimos anos, Wilker esteve na capital paranaense com dois espetáculos. Em 2009, ele estava em cena na comédia “A cabra ou quem é Sylvia”, de Edward Albee. Dirigido por Jô Soares, Wilker interpretava Martin, um arquiteto bem-sucedido e aparentemente feliz no casamento com Stella (Denise Del Vecchio).

Três anos mais tarde, em 2012, o ator levou ao festival “Palácio do fim”. Escrita pela canadense Judith Thompson, a montagem havia sido a recordista de indicações ao prêmio Shell daquele ano, com quatro indicações, incluindo melhor direção, assinada por Wilker. A peça conquistou dois prêmios, nas categorias iluminação (Maneco Quinderé) e atriz (Vera Holtz).

Últimos trabalhos

Wilker estava escalado como um dos homenageados do Cine PE Festival do Audiovisual, que acontece do dia 26 a 2 de maio em Recife. No dia 14 de agosto estreia “Isolados”, longa-metragem do diretor Tomás Portella, que tem uma das últimas participações de José Wilker no cinema. Thriller estrelado por Bruno Gagliasso e Regiane Alves, o filme tem roteiro de Mariana Vielmond, filha de Wilker. Tomás, que já trabalhara com o ator como assistente de direção de “Giovanni Improtta” e “O Bem Amado”, conta que ele filmou durante dois dias, interpretando o Dr. Fausto, mentor do personagem de Bruno, um psiquiatra às voltas com um assassino em série.

— Foi uma participação pequena, mas incrível — diz Tomás. — O Wilker é uma força do nosso cinema. Fez filmes que mudaram a história, como “Bye Bye Brasil” e “Dona Flor e seus dois maridos”. Vamos homenageá-lo no filme.

Outro filme de Wilker a estrear é “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Vinicius Coimbra, que foi exibido no Festival do Rio em 2011. Nele, o ator interpretou um personagem chamado Joãozinho Bem-Bem.

O ator deixa duas filhas: Isabel, com a atriz Renée de Vielmond, e Mariana, furto da relação com a também atriz Mônica Torres.

O Globo

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