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Quando o peixe traíra, abundante na região do Cariri paraibano, perdeu seu mercado consumidor para a tilápia, na década de 80, muitas famílias ficaram sem sua principal fonte de renda. Para a pescadora, Maria de Fátima Barbosa, esse obstáculo não foi empecilho e nem motivo para mudar de profissão ou de região. Com soluções inovadoras e persistência, o problema foi enfrentado e solucionado. Além de fazer a traíra voltar ao mercado, gerando renda para 30 mulheres das cidades de Camalaú, Sumé e Congo, o trabalho foi ampliado, com a produção de artesanato com a pele e escamas de peixes, gerando o aproveitamento integral do pescado.
“Desde criança lido com a atividade da pesca, sempre fui muito curiosa. Assim, logo que surgiu o problema da falta de mercado para o consumo da traíra, fiquei muito preocupada, vi muitas famílias sem renda e com muitas necessidades”, disse Fátima Barbosa, medalha de ouro na categoria Produtora Rural do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2013, entregue no dia 25 de fevereiro, em Brasília. Ela foi a vencedora estadual do prêmio e representou a Paraíba na etapa nacional, voltando para casa com a primeira colocação em sua categoria.
“Fiquei muito honrada em carregar a bandeira das trabalhadoras rurais da Paraíba e mostrar ao resto do país o nosso trabalho. Fiquei muito emocionada com a medalha de ouro e quero continuar contribuindo para o empreendedorismo da região”, afirmou Fátima. Mas chegar até o reconhecimento da premiação o caminho foi longo e não foi fácil.
Ela conta que para resolver a situação das pescadoras da região, primeiro identificou o problema: a traíra foi substituída pela tilápia por seu excesso de espinhas. A partir daí, ela desenvolveu uma técnica de retirada artesanal das espinhas do peixe, que foi analisada e aprovada por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). “Com isso, a traíra desfiada passou a ser consumida com maior tranquilidade, retomamos nosso mercado consumidor e viabilizamos renda para as mulheres da região”, afirmou.
Para que esse trabalho fosse difundido, em 2011, o assunto foi discutido durante assembleia de pescadores, com a apresentação da técnica e degustação dos produtos. Foi o passo inicial para a realização da 1a Oficina de Qualificação da Produção, envolvendo mais mulheres pescadoras. “Fizemos diversas atividades práticas, gerando grande motivação do grupo. Além de inserirmos as mulheres no mercado de trabalho, as famílias tiveram melhorias nutricionais em sua alimentação”, completou Fátima.
Outra inovação do grupo de pescadoras, que irá aumentar a renda das mulheres, é a produção de artesanato com a pele e as escamas de peixes. “Teremos um aproveitamento integral do pescado, contribuindo para a sustentabilidade. Sei que para ser empreendedora, é preciso ser persistente, corajosa e investir em qualificação”, disse Fátima.
Apesar das conquistas já alcançadas, Fátima Barbosa continua com as ideias em ebulição. “Junto com o Sebrae iremos elaborar um plano de negócio e realizaremos outras capacitações. Investiremos na conquista de um local próprio para desenvolver a atividade de beneficiamento, queremos um selo de qualidade, criaremos logomarca para nosso produto e apresentaremos as informações nutricionais em nossas embalagens. Queremos avançar rumo ao mercado”, completou.